Um dia desses pintou uma notificação no meu LinkedIn, vinda de um post em que eu fora marcado pela Revista de Administração Contemporânea, citando um artigo acadêmico sobre ambidestria organizacional. Trata-se do único artigo que eu tenho publicado na vida, cujo título completo é 'Ambidestria Dinâmica: Proposta de um Modelo Teórico e Hipotético'.
Tanso que sou, devo confessar: eu não entendo metade do que está escrito ali. Participei da construção desse estudo enquanto trabalhava num projeto educacional dentro de uma instituição de ensino, com contribuições práticas sobre o que estava fazendo. Competentes profissionais da pesquisa traduziram a história em artigo depois e eu fiquei com parte do crédito.
Cabe dizer ainda que "Teórico e Hipotético" são dois termos que não combinam em nada com a tanso, né? Mas a ambidestria em si é extremamente relevante para a inovação! E é sobre ela que vamos falar hoje, num 'Modelo Concreto e Perceptível'. risos.
Vem comigo!
Bom, o sentido literal você já conhece e eu não vou encher linguiça sobre ele: é escrever com as duas mãos, chutar com os dois pés e assim por diante. Mas não basta fazer de qualquer jeito, é preciso fazer bem feito para ser considerado ambidestro!
O mundo corporativo se apossou do termo para falar sobre uma outra habilidade simultânea que não se refere a mãos ou pés, mas sim sobre tempos. Equilibrar presente e futuro na vida de uma empresa é uma arte — e a essa virtude foi dado o nome de 'ambidestria organizacional'.
como assim, Victor, equilibrar presente e futuro?
É simples. Pensemos em nossas próprias vidas. Você gasta todo o dinheiro que ganha, todos os meses? Bom, não deveria. É preciso guardar parte dos rendimentos para o futuro. Investir em um curso, viajar, cuidar de uma doença, casar, abrir um negócio, ter filhos. Isso tudo depende de um volume de dinheiro que não brota da terra — você precisa criar formas de acumular ao longo do tempo para ter disponível quando chegar a hora.
Se você só se preocupar em viver o presente e aproveitar a vida, pode se dar mal no momento de uma necessidade ou de concretizar um desejo. Se você só se preocupar em guardar para o futuro, pode se tornar um velho chato prematuro, que vai morrer sem aproveitar a vida. O equilíbrio entre os dois mundos é difícil pra caramba de achar, mas essa busca é o que nos torna seres desenvolvidos e garante o desenvolvimento da espécie.
Para as empresas a lógica é a mesma: se o business usa o modelo de negócio existente no limite e tenta tirar dele tudo o que pode hoje, é perigoso sofrer uma queda brusca a qualquer mudança de comportamento, de mercado ou de mundo, como uma pandemia da vida. Se a empresa, por outro lado, passa o dia buscando o que há de mais novo e tenta surpreender seus consumidores a cada semana, é provável que tenha dificuldades em encontrar viabilidade econômica.
Essa busca infinita por equilibrar presente e futuro é o que faz da empresa ambidestra — ou não.
exploit vs explore
O conceito nasceu em inglês e a tradução é uma merda — em português, ambas as palavras são traduzidas para explorar. Portanto, seu tanso, não importa quão empático eu seja para não ficar usando termos norte-americanos nesta doce newsletter, hoje nós precisamos abrir uma exceção. Sendo assim, já toma logo um vídeo em inglês pra ficar esperto!
Este simpático professor usa um exemplo bem natural para ilustrar os conceitos: uma tribo nômade! Vamos explorar esse exemplo :D
Antes da Revolução Agrícola, o ser humano vagava diariamente de um canto ao outro em busca de alimentos: eram os chamados caçadores-coletores. Não tinha ifood, supermercado nem feira. Era puro mato, com ursos, leopardos e crocodilos à espreita, prontos para dar o bote. Fizesse chuva ou sol, lá estavam nossos amigos homo sapiens à procura de comida.
Imagine que após três longos dias de caminhada sem achar muita coisa pelo caminho, um grupo, de repente, se depara com um farto pomar, num recôncavo seguro, com comida variada e água disponível. “Porra, sorte grande! Bora ficar por aqui mesmo, galera!”, diria o líder da turma.
O bando tem umas 50 pessoas e a única certeza que se tem é que o alimento é finito — lembre-se: ninguém sabe plantar ou criar animais ainda. No primeiro dia todos descansam, comem e dormem tranquilos para curtir a descoberta.
A pergunta é: qual é o limite de tempo para ficar só aproveitando o achado? Em que momento alguém precisa puxar o bonde e começar a procurar uns cantos novos, pensando que o rango pode acabar ou simplesmente eles podem ser descobertos por uma matilha de lobos selvagens ali?
Esse é o ponto! Em algum momento, enquanto uma galera fica na região para exploit, ou seja, extrair o que há de melhor disponível por ali, uma parte do grupo deverá sair para explore, descobrir qual é o próximo passo, onde o bando ficará seguro quando precisar se mover.
nas empresas
Esse é um movimento obrigatório para quem quer jogar o jogo a longo prazo. Se você é uma empresa recém criada ou uma startup e está tentando emplacar seu primeiro produto ou serviço no mercado, todo o esforço está voltado a achar uma área para exploit, ou seja, você precisa simplesmente achar um pomar para poder sentar e comer. A inovação é o negócio em si. Você já pratica o explore desde o primeiro dia. Não tem que inventar moda de tocar os dois ao mesmo tempo.
Se você é uma empresa estabelecida de dez, vinte ou trinta anos de idade para mais, o movimento é exatamente o oposto. Ninguém chega a essa idade sem um bom exploit! Em algum momento, você ou o fundador da sua empresa, achou, lá atrás, o farto pomar e veio se satisfazendo através dele desde então. É certo que você já fez melhorias, criou estruturas, aprendeu a cultivar as espécies nativas e fez desse lugar um ambiente sustentável. Mas será que ele estará sadio ao seu dispor pelos próximos dez anos? Não sei.
há mil clichês
que eu tenho uma certa resistência em contar aqui exatamente pelo fato de serem clichês, mas que ilustram bem essa certa arrogância que as empresas desenvolvem ao se instalar em um pomar muito próspero.
A Kodak dominou mais de 80% do mercado de fotografia do mundo — e faliu de forma lamentável por não ouvir seus próprios engenheiros que saíram para explore num momento crucial. Os taxistas achavam que a legislação vigente garantia a eles estabilidade infinita no serviço de transporte urbano individual e não fizeram o menor esforço para explore as novas tecnologias que surgiam ao seu redor.
As montadoras mais clássicas demoraram a assumir que Elon Musk e sua turma poderiam se tornar uma ameaça real com seus carros elétricos e autônomos, mas hoje a Tesla tem valor de mercado superior a todas elas somadas.
Atirar-se em direção ao desconhecido configura um risco danado. Ficar no lugar, agarrando-se às soluções que te deram segurança um dia, é ainda pior. O segredo é equilibrar os dois universos e a boa notícia é que já temos técnicas estabelecidas para isso no mundo dos negócios.
Eu conto a que eu mais gosto na semana que vem!
Um abraço,
Victor Sanacato
los recaditos 🦆
inscrições abertas! é isso mesmo, acabou a bagunça nessa porra. Para participar do encontro #07, que vai falar sobre carreiras, tem que se inscrever. Isso é pra gente se organizar melhor e já ajustar algumas pautas de acordo com o interesse de vocês. Portanto, se você anda meio de saco cheio com o trabalho aí — ou conhece alguém que esteja passando por essa fase — junte-se a nós!
hora-bar! todos os tansos em Floripa convidados para um happy hour na mercadoteca amanhã, sexta-feira, dia
Muito bom!