até logo

uma carta aberta aos tansos

Hoje é um dia estranho.

Fiz pela manhã um procedimento de saúde em meu corpo e agora, às 17h12, me encontro aqui deitado, com gelo, sob efeito de drogas múltiplas. Está tudo bem, não foi nada grave e já estava planejado há um tempo. Nem por isso deixa de colocar em situação de vulnerabilidade extrema, faz repensar a vida toda e reeleger o que realmente tem valor. 

A decisão que eu comunico agora também já foi tomada há um tempo. Apesar de ser todo racional e planejado, externamente, por aqui tem um monte de coisas que eu gosto de ir fazendo no feeling. Na intuição. Decido racionalmente, quando o mar está calmo; executo quando der na telha, independente das circunstâncias. Esse é o meu padrão. Essa racionalidade toda já me levou, inclusive, a pesquisar sobre isso, do ponto de vista científico, e vi que, na verdade, não tem decisão racional nenhuma. Somos seres extremamente impulsivos e agimos como tal em boa parte do tempo. Tenho capacidade cognitiva suficiente para entender o que isso quer dizer na prática. Da mesma forma, racionalmente, decido seguir acreditando no meu padrão, mesmo que seja um contrassenso absoluto. Somos assim.

Onze dias atrás eu decidi pedir a minha namorada em casamento. Big step. Nunca tinha feito isso na vida. Eu gosto de fazer coisas pela primeira vez. Na semana seguinte encontrei um caderno no fundo de uma mala, que julgava perdido há alguns meses. Nele, encontrei anotações minhas feitas em setembro passado falando sobre o tal pedido. Decisão construída meses a fio. Na prática, tinha alugado um veleiro para o sábado pré-dia-dos-namorados. A previsão do tempo anunciava um dia incrível em Floripa. Aproveitei a deixa e, na véspera, saindo do barbeiro, passei numa joalheria para comprar o anel. Planejado ou impulsivo? Você decide.

Interromper esta newsletter

já é uma decisão tomada há um tempo. Faltava, no entanto, uma boa ocasião para executar. Dessa vez não teve veleiro e dia bonito para decidir. Teve cirurgia e anestésicos. Talvez eu esteja influenciado pelas substâncias, falando besteiras publicamente neste exato momento e só venha a me dar conta disso daqui alguns dias, quando tiver retomado a minha consciência por completo. Talvez tenha sido exatamente isso que eu fiz nas últimas 94 semanas. Noventa e quatro! Que loucura.

Quando eu comecei, em agosto de 2021, eu tinha um único objetivo: publicar 52 semanas consecutivas. Era um jogo de mim comigo mesmo. Nunca houve meta externa antes de entrar em campo. Estava em busca de consistência na vida. Encontrei aqui algo que me permitia medir isso. Quinta-feira, às 07h07. Publicou ou não publicou? Simples assim. 

À medida que as coisas foram acontecendo, surgiram novos objetivos. Conquistar centenas de leitores. Construir uma comunidade. Uma empresa. Uma escola de inovação. Quanta coisa passou pela minha cabeça, que rapidamente virou ‘nossa’. Surgiram embaixadores. Gente interessada em fazer acontecer, sem saber exatamente o quê. Gente que se identificou com a ideia de que podia fazer diferente. Oficialmente, Thiago, Bela, Arthur e Moisés. Não oficialmente dezenas que não citarei o nome aqui para não cometer injustiças. 

Sonhamos juntos.

Imaginamos um mundo onde as pessoas se interessariam por aprender conceitos de inovação, se desenvolveriam em business e levariam esses aprendizados a seus trabalhos, fazendo do mundo um lugar melhor. Imaginamos um ambiente onde as pessoas assumiriam seus protagonismos e teriam iniciativas múltiplas para desenvolver projetos relevantes e trazer outras pessoas para o movimento. Imaginamos um mundo onde as pessoas partiam para a ação, munidas de seus conhecimentos e amparadas por uma rede de apoio que se ajudaria sob quaisquer condições. 

Meses e meses se passaram e o nosso mundo imaginado não se converteu em realidade. A responsabilidade é exclusivamente minha. Os motivos são inúmeros e, de verdade, não estou preocupado com eles agora. Já consolidei internamente um volume interessante de aprendizados sobre essa jornada e tenho as atenções voltadas para o que está por vir. Estou sentindo intensamente aquela transição de fases da vida. O noivado é um símbolo. Este hiato é outro símbolo. Estou abrindo uma nova empresa. Tenho lido coisas diferentes. Tenho escrito coisas diferentes. De alguma forma não sinto que são publicáveis, pelo menos por agora. Não semanalmente. Não sob esta roupagem. Quero me aprofundar em temas diversos. Quero escrever melhor. Isso tudo pede espaço — na agenda e na mente. Estou juntando o melhor de mim para seguir pleno rumo a novos objetivos. E devo a você, que acompanha esta newsletter todas as semanas, um grandessíssimo agradecimento!

Embora lá atrás, o jogo racionalmente anunciado fosse de mim para comigo mesmo, é óbvio que por baixo dos panos da minha mente havia um desejo enorme de me conectar com pessoas através das palavras. Queria, de alguma forma, que sentissem por mim algo próximo do que eu sinto por meus escritores favoritos, guardadas as devidas proporções, é claro. E neste quesito fui incrivelmente bem sucedido! Atingi com este projeto milhares de pessoas — foram mais de 30 mil leituras contabilizadas. Interagi com centenas delas. Construi algum nível de relação com dezenas. E levo comigo alguns indivíduos especiais que tive a honra de conhecer assim, escrevendo. Um muito obrigado, de verdade! Vocês foram interlocutores incríveis e eu jamais serei capaz de expressar quão realizadora e significativa foi esta jornada. 

O escritor fictício Daniel Mantovani,

interpretado por Oscar Martínez em “O cidadão ilustre”, filme argentino de 2016, disse que um escritor precisa de três ingredientes para escrever: papel, caneta e um grande ego.

Eu concordo. Mas há ainda um quarto elemento que precisa ser adicionado a esta lista: uma profunda admiração pelo ser humano. Em sua essência. Eu amo estar aqui. Amo viver e interagir com gente do bem, que quer fazer um mundo melhor e não se importa em quebrar uma regra ou outra, de baixo impacto, de vez em quando. Faz parte do jogo.

Pode ser que eu apareça por aqui de vez em quando para dar algum recado. Pode ser que não.
Vocês sabem onde me achar.

Stay hungry.
Stay foolish.

Um grande abraço,
Victor Sanacato

Deixe aqui um comentário de despedida 👇🏻

P.S.: nossa comunidade passará por mudanças estruturais na sequência, mas apenas aqueles que lá estão saberão das novidades. Avisamos assim que eu tiver melhores condições físicas para dar o próximo passo. :)