— parte três
Dia seguinte. Dia de checkout no hotel. Após o dia completo no evento, Bela seguiria para o aeroporto, rumo a Floripa, eu para a rodoviária, rumo a SP. Isso significa fechar as malas. Isso significa se atrasar pela manhã, afinal de contas já eram cinco dias de Rio de Janeiro, entre trabalho e lazer; e as malas já estavam uma zona.
Dobra roupa, guarda roupa, amassa roupa. Soca roupa. Chucha tudo lá dentro. Senta em cima pra fechar o zíper. Tenta, ingenuamente, não amassar as que estavam limpas, pois a viagem continua, pelo menos pra mim. Pura ilusão.
Já eram quase dez horas quando finalmente conseguimos fechar tudo. Entrei no aplicativo de chapelaria do evento, pronto para gastar uns R$80 por mala. Assim que concluí a reserva, vi que era gratuito. Fiquei impressionado. Raro caso de surpresa positiva na jornada. Mas comemorei. “Simbora, mulher. Já passou da hora".
Chegando na recepção, fui em direção ao balcão para entregar os cartões de acesso enquanto a Bela foi ao banheiro. Atendimento-carioca-ruim-padrão, mas pelo menos foi rápido. Hora de chamar o uber. Pego o celular para descobrir quanto seria a corrida dessa vez e, enquanto faço os primeiros movimentos com o dedo na tela e de cabeça baixa, escuto uma voz que não me era estranha.
— Victão?! — perguntou.
Ergo a cabeça lentamente, naquela que tenta disfarçar caso não seja com você mesmo que estão falando.
— Puta que pariu! Tá de sacanagem?! — risos.
Era o meu tio, Rogério. Ele mora em SP, mas estava hospedado no mesmo hotel que a gente na Barra. Tínhamos trocado mensagem no dia anterior marcando de se encontrar no evento — que eu nem sabia exatamente porque ele estava lá, uma vez que trabalha com telecomunicações —, sem imaginar que a rede de wi-fi que conectava nossos aparelhos era a mesma. Coincidência da porra.
— Você tá indo pro evento? Vamos rachar um uber?
— Sim, estamos! Olha quem tá ali! — eu apontei.
Nisso chegava a Bela no saguão, com cara de incrédula, tentando entender o que estava acontecendo.
— Gente! o que é isso aqui?! — indagou ela.
— Pois é, estamos hospedados no mesmo hotel! — eu respondi.
Os dois se cumprimentavam enquanto eu voltava para o uber. A um clique de chamar a corrida, o telefone toca. Daniel, o mesmo de ontem.
— Bom dia, Victor! Tudo bem? Estamos indo agora para o evento, vocês querem uma carona?
— Bom dia, Daniel! Estamos saindo agora também, mas hoje, além das malas, tenho mais um passageiro comigo. Acho que é muito abuso da nossa parte.
— Que nada! Vamos juntos. A gente se encontra no subsolo em três minutos.
— Beleza. Muito obrigado.
Chegando no estacionamento, apresentamos ao casal o novo integrante da jornada e amassamos algumas coisas no porta-malas para fazer caber a nossa bagagem. Descobrimos, já com o carro em movimento, que meu tio era o Diretor Técnico do evento, responsável por toda a infraestrutura de tecnologia do WebSummit.
Que loucura! Ele contou nos alguns causos dos bastidores, deu alguns big numbers, como 40km de cabos passados dentro do evento só para garantir o acesso à internet da galera, e essa foi a última conversa séria do trajeto.
Mais alguns minutos se passaram e toda formalidade construída no dia anterior na relação com Daniel e Marina, foi substituída por piadas que meu tio contava sobre a minha avó no banco de trás e nós ríamos como se estivéssemos em casa.
Assim seguimos até o Riocentro. Chegando lá, uma despedida diferente do dia anterior com o casal paulistano. Meu tio ainda nos mostrou alguns detalhes na entrada do pavilhão e a selfie em frente à logo do evento para o grupo da família fechou o episódio inusitado da manhã.
Serendipidade na veia, que só um evento desse porte é capaz de causar.
Continua na próxima semana.