Eu acredito fortemente que, num futuro não muito distante, as empresas disputarão entre si para contratar as pessoas que precisam para ocupar suas vagas. Sim, uma completa inversão do sistema atual, onde as pessoas é que disputam, umas com as outras, para conseguir as vagas oferecidas pelas empresas. A relação entre posições e candidatos é brutalmente desigual, com casos que chegam a registrar mais de mil candidatos por uma única vaga — e é a partir deste momento que começam a surgir os famigerados e complexos processos seletivos.
Você passa alguns anos na faculdade, faz cursos de inglês, excel e oratória, aprende a dominar todo o esquema do trabalho digital, desenvolve diversas soft skills, busca técnicas de vendas, persuasão, negociação, lê livros sobre liderança, gestão e dados. Dever de casa completo! Chega, enfim, a hora de buscar um trabalho à altura de todo o seu conhecimento! Foi anunciada a vaga dos seus sonhos, você foi com toda a pressa se inscrever e finalmente mostrar a eles como está preparado para trabalhar naquele projeto! Inscrição feita, todos os dados lançados no sistema e dois minutos depois a caixa de entrada recebe uma nova mensagem com a confirmação, tudo certo! No fim do e-mail há um link para a primeira etapa do processo. Você clica lá e o que aparece? Um joguinho.

Sim, um fucking jogo! "Como é que eu vou mostrar a eles todo o meu potencial através de um jogo traiçoeiro que não me deixa nem pensar com aquele cronômetro estampado na tela?", você brada. "Ninguém é capaz de me julgar por um simples jogo", grita em silêncio, enquanto pensa no prazo do outro processo seletivo que está fazendo de backup e pede a solução de um case nas próximas vinte e quatro horas. Melhor pensar nisso depois e ir trabalhar no tal case.
É, meu caro leitor, a vida não é fácil. Proponho, no entanto, um exercício reverso: imagine você trabalhando como gestor de recursos humanos de uma grande empresa, com a missão de selecionar um talento promissor para uma vaga importante, e recebendo mais de mil candidatos para ela. O que você faria? Não parece fazer sentido estabelecer alguns critérios subjetivos para dar uma filtrada boa na galera e começar a olhar com mais atenção para uns cento e cinquenta, imaginando conversar com uns dez daqui umas semanas? É mais ou menos esse o jogo que eles jogam nos bastidores e, sinceramente, não tem muito pra onde correr, principalmente se você está iniciando a carreira.
São poucos os caminhos alternativos a estes longos e duros processos, mas eles existem e devem ser cultivados a longo prazo. O principal e mais eficiente, na minha opinião, é o relacionamento — ou, na linguagem do mercado, o networking. Não se engane: quem arruma trabalho com contato e sem competência é puxa-saco. O currículo precisa ser concreto, mas não será a porta de entrada para a vaga que você deseja. A tal da indicação é o maior lubrificante que existe na hora de arrumar um emprego e isso só tende a se intensificar com o tempo.
Proponho o exercício do recrutador novamente: imagine que antes de olhar para os mil e tantos candidatos, você recebe uma indicação genuína de um colaborador extremamente confiável da empresa, que já trabalha lá há alguns anos. Você acha que é possível olhar para este tal candidato de maneira imparcial? Ele pode tirar a pior nota de todas nos joguinhos que vai passar para a próxima fase. Talvez não seja justo com os que deram o sangue no joguinho, mas não há qualquer garantia de neutralidade no processo, pelo contrário, a empresa contrata quem ela quer. Se você quer regras exatas e transparentes no processo, faça um concurso público — risos, muitos risos.
Pois bem, a dúvida agora é como ser o indicado pelo colaborador confiável bem no momento do processo seletivo, certo? Essa é uma ciência não ensinada na faculdade, independente do curso que você escolheu — infelizmente. Digo mais: se você sair correndo para 'criar' esses contatos da noite pro dia, corre grande risco de ver o tiro saindo pela culatra e sair de interesseiro na história ainda.
Não estou ajudando muito, né? Real life.
Dei um google em "como fazer networking" antes de escrever esse texto e vi uma porção de passo-a-passo (não sei como escrever isso no plural). Eu resumiria em um único grande e abstrato passo — não acredito que exista tutorial pra isso. Minha tese está baseada na geração de valor. Yes, that simple. Faça o exercício reverso mais uma vez: quem você indicaria genuinamente a uma vaga, se soubesse que está se candidatando a uma vaga onde você trabalha? Faça uma lista com 5 nomes que indicaria às cegas, sem medo de se arrepender depois. Analise essas pessoas e veja porque as escolheu.
Provavelmente elas já geraram valor ao seu redor, talvez direcionado a você, talvez de forma indireta, e por pura reciprocidade, você a indicaria nesse momento decisivo. Você certamente leva em consideração fatores comportamentais delas. Você imagina qual seria a reação delas perante um momento de stress ou diante de uma oportunidade de ser desonesto, pois sabe que seu nome estará diretamente envolvido caso ela pise na bola em algum momento. Faz sentido?
Maravilha! Agora é só começar a agir, dia após dia, sem pular um, da forma como você imaginou todas essas situações que, dentro de algum tempo, você não vai mais precisar jogar nenhum jogo para chegar a uma entrevista na empresa que você deseja. Enquanto isso, aproveite o valor contido nos processos seletivos. É possível aprender um monte de coisas legais solucionando os cases propostos pelas empresas, tirar vários insights interessantes para a sua carreira e ficar cada vez mais preparado para essa concorrência brutal que (ainda) existe por aí.
Comenta aqui o que você acha disso tudo pra gente seguir com a conversa!
Um abraço,
Victor